quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Jovens negros têm novas perspectivas de futuro

Os próximos anos serão marcados pela maior presença dos negros em vários setores da sociedade. Os filhos das famílias pobres rompem o ciclo da miséria, passam por universidades e chegam ao mercado de trabalho com novas perspectivas.


Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil

Com o aumento do número de políticas afirmativas, como a criação de cotas para afrodescendentes nas universidades públicas e o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra e jovem tem uma nova perspectiva de futuro. Diferentemente de seus pais, eles agora ingressam no ensino superior e pretendem seguir estudando.


Deuzilene Barros 
Foto: Agência Brasil
A estudante da Universidade de Brasília (UnB), Deuzilene de Oliveira Barros, 21 anos, passou no vestibular de 2007 para o curso de artes cênicas por meio das cotas. Desde 2004, UnB reserva 20% de suas vagas para afrodescendentes. “Fui a primeira da minha família a passar numa universidade pública. Meu pai tem 57 anos, é motorista de ônibus e ainda não se aposentou. Minha mãe não trabalha, fica em casa para cuidar dos filhos, ela não terminou o ensino médio”.

Ela afirma que depois de se formar, pretende entrar no mestrado. “A minha perspectiva é essa. Eu estava planejando isso. Estão falando de cotas para o mestrado, isso é bom, pois a gente saí desse ciclo da graduação, de repercutir o pensamento dos outros, e passa a produzir o conhecimento em si”.

Para Deuzilene, que mora na Ceilândia, cidade satélite de Brasília, a sociedade ainda é muito preconceituosa. “Minha vida como mulher negra é diferente porque eu cresci no século 21 e é outro esquema. A minha mãe sofreu bastante como mulher negra. Como todas as outras pessoas, sofri preconceito na escola e sofro até hoje. Isso me cansa e é uma coisa que me chateia muito, esses olhares transviados, esses olhares distintos para cima de mim como se eu fosse a exótica do lugar”.

A maranhense Amanda Ribeiro Guimarães, 25 anos, é formada em química industrial e trabalha como modelo. “Eu passei na Universidade Federal do Maranhão em 2004, na época que eu passei no vestibular não tinha sistema de cotas. De 28 alunos, eu era a única negra. Tenho um irmão já formado em administração. Meu pai é matemático se formou também na Federal e a minha mãe só tem até o ensino médio e é escriturária”.

Hoje, Amanda mora em São Paulo, mas trabalhou como modelo em Curitiba. “Tive um destaque muito bom, todas as coisas que eu poderia fazer lá, eu fiz. Dei uma parada [nos estudos] de dois anos. Mesmo assim, pretendo fazer meu mestrado, de preferência em outro país”.

Segundo ela, a situação começou a mudar quando as pessoas começaram a discutir a questão do negro na sociedade. “Começaram a sair da discussão e colocaram em prática. Está tendo uma reviravolta muito grande no país. Daqui a dez anos vamos ver mais mudança e tomara que essa questão do negro continue crescendo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários