sábado, 13 de outubro de 2012

Desafios do identificador de tendências

O perfil de um analista de tendências requer objetividade. Pessoas apegadas a verdades absolutas terão dificuldades no processo de identificação das mudanças da sociedade. 


Carlos Plácido Teixeira
Editor - Radar do Futuro

“Eu acho que existe um mercado para talvez cinco computadores". Atribuída a Thomas Watson, presidente da IBM em 1943, a frase é emblemática do desafio de quem se expõe ao tentar fazer previsões sobre o futuro. Na história, há outros casos de personalidades que erraram em previsões por não conseguir ver além dos indicadores subjetivos. “Não há razão para que alguém queira ter um computador em casa“, disse, em 1977, Ken Olson, presidente e fundador da Digital Equipment Corp (DEC), fabricante de computadores mainframe ao avaliar o surgimento dos computadores pessoais.

Os equívocos dos dois executivos são citados com alguma frequência por gurus de administração como exemplos curiosos de erros de avaliação. Mas podem ser compreendidos de uma forma mais ampla. Também demonstram que quem pretende antecipar perspectivas futuras esbarra, invariavelmente, na dificuldade de superar crenças baseadas em percepções meramente pessoais. As convicções e subjetividades, invariavelmente, limitam a capacidade de prospecção sobre o impacto das novidades e das inovações e a identificação das transformações sociais, políticas, econômicas e culturais, entre outras, mesmo entre personagens e em setores onde a criação de novos produtos é intensa.

Autor de um "Guia do Caçador de Tendências", o consultor sueco Magnus Lindkvist acredita que "estamos cegos para as forças ocultas que agem nos bastidores de nosso cotidiano". Crises, como as que afetam atualmente a Europa e os Estados Unidos, eram previsíveis. Mas poucos profissionais perceberam os sinais do mercado. "A mente humana é mal constituída para a complexidade", diz o especialista em identificação de tendências. A percepção de acontecimentos futuros sofre os efeitos de um certo comodismo e de condicionamentos sociais, tipicamente humanos. Para que complicar, se podemos simplificar, dizia Chacrinha, um dos principais nomes da comunicação brasileira nos primeiros anos da televisão.

Perfil

Para Magnus Lindkvist, a "cegueira" diante de acontecimentos desafia a profissão de identificador de tendências, papel desempenhado por quem assume a missão de detectar mudanças nos negócios e na sociedade. Pessoas apegadas a dogmas são, portanto, as menos indicadas a antecipar perspectivas futuras. Tanto alguém que se conduz estritamente por crenças religiosas, como um economista que segue a cartilha monetarista ortodoxa ou um sociólogo ferrenhamente liberal ou marxista. Tais grupos tendem a ser integrantes das tendências. Objetividade é essencial. Na cobertura jornalística de futebol a tradição manda - ou mandava, pelo menos - que o profissional de imprensa não revelasse a sua preferência. O raciocínio é claro. Como "não-torcedor", o comentarista ou narrador representa a isenção no relacionamento com o esporte. Tem maior credibilidade para avaliar os resultados, a qualidade dos times, o desempenho do técnico e a atuação dos juízes.

Assim deve ser o analista de tendências, capaz de ocupar um espaço neutro no ambiente. Difícil? Muito. Ainda mais quando se considera a cultura predominante na sociedade ocidental, que estimula o raciocínio marcado pela contraposição entre o bem e o mal, o certo e o errado, a torcida por um lado ou por outro. A cobertura de processos eleitorais oferece elementos para a percepção baseada em confronto de opiniões. O senso comum propaga que, se falo bem de um lado, sou um representante dele. Daí, uma perspectiva de aumento da radicalização entre lados.

Na análise de algum setor ou atividade, o especialista deve ser capaz de apontar os atores envolvidos, os acontecimentos e as variáveis portadoras de mudanças, capazes de gerar alteração de rumos dos assuntos em processo de análise. De forma resumida, a identificação de grandes transformações, capazes de mudar a sociedade ou segmentos, requer método, acima de tudo.

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