Em processo experimental, o Banco do Brasil vai possibilitar, até o final de ano, que 100 funcionários desempenhem suas funções em casa. Novas experiências em grandes empresas consolidam a alternativa que melhora a qualidade de vida dos trabalhadores.
Carlos Plácido Teixeira
Editor - Radar do Futuro
Sentada no sofá de casa, Ingrid Vieira Rodrigues, analista de Tecnologia da Informação, usou o celular para mirar os pés e clicar as meias. "Look do dia", provocou, ao enviar a imagem para os colegas de trabalho. Aos 34 anos, a funcionária do Banco do Brasil, onde começou quando tinha 19 anos, começou a trabalhar em casa no final de abril. Agora, economiza duas horas por dia de deslocamento e tem mais tempo para dedicar ao filho Artur, de dois anos.
Ingrid é uma das beneficiadas pelo Banco do Brasil, do sistema de home office - ou teletrabalho, de acordo com o outro dos nomes correntes para a possibilidade de executar funções no escritório instalado em casa. Com ela, nove funcionários da área de tecnologia do banco estatal, no Distrito Federal e em São Paulo, receberam autorização para atuar da mesma forma. A proposta, ainda experimental, inclui o objetivo de, até o fim do primeiro semestre, de possibilitar que 100 trabalhadores cumpram suas jornadas virtualmente. Além da diretoria de tecnologia, funcionários da área de operações também serão contemplados. As áreas de recursos humanos e de mercado de capitais avaliam se vão aderir à produção a distância. .
Programas do mesmo tipo em andamento em grandes empresas, consolidam a tendência do modelo do trabalho. Para chegar à decisão, o diretor de Gestão de Pessoas do BB, Carlos Alberto Araújo Netto, diz que o banco levou em conta experiências do setor público, como as desenvolvidas pelo Tribunal de Contas da União, Tribunal Superior do Trabalho e pela Universidade de Brasília. E de empresas privadas, como Citibank e Oi. "A ideia é dialogar com as características de cada funcionário e abrir a possibilidade para o novo, diz Carlos Netto."
Atualmente, 64% da equipe de atendimento da empresa de aviação Gol atuam em casa - são 1030 pessoas. No Brasil, 36% das empresas adotam o modelo de home office, segundo levantamento da SAP Consultoria divulgado em 2015. As empresas de grande porte são as principais adotantes. Mas há um caminho pela frente, inclusive diante de resultados frustrantes, como os que levaram a vice-presidente de recursos humanos do Yahoo!, Jacke Reses, a estabelecer, em fevereiro passado, o fim do home office em todos os escritórios da gigante de tecnologia. Em um e-mail enviado a centenas de funcionários remotos, a executiva diz que até junho, todos devem passar a trabalhar nos escritórios da companhia. Incluiu um ultimato: quem não puder, deve pedir demissão.
A tendência ganha impulso graças aos avanços das tecnologias e de um mercado pressionado pelo aumento da competição entre novas empresas e produtos. Pesa a favor, também, a economia que continuará a crescer pouco em todos os mercados globais. Empresas enfatizarão, necessariamente, o corte de custos propiciado pelo teletrabalho. Os administradores vão descobrindo que não há sentido em manter espaço para trabalhadores que teriam, em casa, executando tarefas mensuráveis perfeitamente, infraestrutura muito melhor do que a oferecida no ambiente de trabalho das empresas. Com maior qualidade de vida.
Segundo o professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), José Matias-Pereira, o sistema de home office pode elevar a produtividade em até 20%. No caso do banco estatal, ele assinala que "é importante para melhoria na oferta de serviços públicos e redução de custos." Se a experiência do BB for bem-sucedida, o modelo deve ser expandido para outras empresas públicas” avalia.
Experiência - Mesmo de casa, os funcionários terão de bater ponto e cumprir a mesma carga horária. Além disso, devem comparecer ao banco um dia por semana e precisam manter telefones sempre ligados e consultar diariamente o e-mail. Os funcionários não podem se ausentar de onde estão lotados e precisam atender às convocações para comparecer ao banco. O principal objetivo é reduzir custos estruturais. Para afastar o fantasma da queda na produtividade - uma questão recorrente quando o assunto é home office -, o banco determinou que as metas para esses servidores sejam 15% superiores às dos demais.
No máximo, 50% de cada equipe poderá trabalhar de casa. Está previsto um revezamento entre os funcionários. O público preferencial são mulheres e pessoas com deficiência. O servidor só pode exercer a função em casa se a área responsável pela segurança do trabalho certificar o lugar. Os gestores também receberam capacitação para acompanhar o cumprimento das metas.
O projeto é facultativo, a critério da conveniência e oportunidade do banco. Ou seja, não é um direito do trabalhador. Da mesma forma, a adesão ou retorno é uma opção do servidor. O home office é restrito às funções em que seja possível mensurar objetivamente o desempenho do servidor sem a necessidade da presença física. Não é o caso da maioria dos 112 mil funcionários do BB - os 65% que exercem suas funções nas agências espalhadas em todo o País.
Mais tendências
Forças - Eline Kullock, presidente do Grupo Foco, a adoção do home office tende a aumentar, por três motivos: o trânsito dramático nas cidades, a pressão por redução de custos nas empresas e o desenvolvimento de tecnologias de comunicação cada vez mais avançadas
Desempenho - Segundo um estudo das multinacionais de tecnologia Dell e da Intel, 54% dos brasileiros sentem que o trabalho remoto rende mais. Os que discordam dessa afirmação são apenas 14%.
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