quinta-feira, 21 de abril de 2016

Hora de assumir a felicidade na busca da profissão

Gerações se repetem no dilema entre priorizar felicidade ou dinheiro na escolha da profissão


Carlos Plácido Teixeira
Jornalista e Futurologista - Radar do Futuro

A "geração y", dos nascidos entre os anos 1980 e 2000, dá mais importância à qualidade de vida do que as gerações imediatamente anteriores. Certo? Nem tanto. Repetida à exaustão como verdade, a declaração atrai caçadores de mitos para a sua desconstrução. Dúvidas sobre verdades tornadas absolutas sobre o comportamento dos adolescentes são lançadas por estudos recentes desenvolvidos pelas empresas de consultoria Delloitte e PWC e pela multinacional de tecnologia IBM. As pesquisadoras confirmam o que já dizia Elis Regina. Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

O dilema entre escolher uma profissão que abra portas da felicidade ou que possibilite ganhar dinheiro continua firme e forte. Inclusive entre os mais jovens, abaixo dos 15 anos, que iniciam agora o ciclo da busca por sinais e conhecimentos para a pergunta sobre o que vão ser no futuro, quando crescerem.

Os estudos desconstroem mitos sobre diferenças de comportamentos e anseios de integrantes das diferentes faixas populacionais, abrangendo pais e avós. E as conclusões induzem a revisões das perguntas lançadas frequentemente por especialistas. Talvez seja o melhor momento para tentar descobrir se as novas gerações serão capazes de estabelecer uma nova relação entre qualidade de vida e trabalho. Em outras palavras: as pessoas vão finalmente fazer escolhas com base em possibilidade de alcançar a felicidade terrena? Ou a repetição vai passar sobre mais uma geração?

Cenários

O levantamento "Mitos, exageros e verdades incômodas: a verdadeira história sobre a geração Y no trabalho", da IBM, foi realizado em 2014, em 12 países, com 1.784 funcionários de empresas, de seis setores industriais. Teve como objetivo comparar as preferências e padrões de comportamento da geração "y" com as duas gerações anteriores, a "x" e os velhinhos "baby boomers".

O primeiro mito derrubado envolve a crença de que os objetivos e as expectativas de carreira dos milenares são diferentes daqueles das gerações mais velhas. O que ficou claro no estudo é que Albertinho, um engenheiro imaginário, coloca quase o mesmo peso em muitos dos mesmos objetivos de carreira dos funcionários mais velhos, como o pai dele.

Coloque em destaque o gerenciamento do equilíbrio entre vida e trabalho. A pesquisa da IBM mostrou que 18% dos membros da geração Y, 22% da geração X e 21% dos baby boomers consideram importante o equilíbrio como meta de carreira. O que? Repare bem, valorizam menos, não mais. Pois é.

A pesquisa conduzida pela PwC mostra um quadro semelhante de desconstrução de verdades. "O equilíbrio entre vida e trabalho é ponto inegociável para a geração Y. Mas também é para outras gerações", conclui o estudo. Ao comparar os membros de Y com grupos de outras idades o estudo possibilitou a derrubada de mitos e estereótipos ao mostrar, por exemplo, que os milenares são tão compromissados com o trabalho como os seus parentes mais velhos. Quem diria, eles levam as suas atividades a sério, ao contrário do que dizem alguns dos velhos generalizadores, para quem o descompromisso é a marca dos jovens de hoje.

Constatadas as semelhanças, resta a dúvida sobre a capacidade da sociedade algum dia finalmente descobrir se é possível escolher a felicidade como meta de trabalho. O debate será acirrado nos próximos anos, diante das mudanças reais que ocorrem no ambiente produtivo, sob a influência da revolução tecnológica. As relações de trabalho vão mudar. Estão mudando, pensando bem. 

Pessimisticamente falando, vale acreditar que encontrar felicidade no trabalho é uma impossibilidade, por exemplo, porque o ser humano tende a uma repetição de comportamentos. Nosso cérebro preserva em algum ponto do cérebro a programação de que precisa realizar a caçada diária para garantir a sobrevivência da tribo familiar. A revisão do papel de produção como inerente à necessidade básica de sobrevivência e não aos desejos é uma questão complexa de ser resolvida pelo ser irracional. 

Mas, para o otimista, as pessoas finalmente vão aceitar a possibilidade de privilegiar a felicidade na escolha simplesmente porque o mundo muda, inevitavelmente. Uma questão de adaptação, ainda recorrendo a uma perspectiva evolucionista. Por exemplo, é crescente a crença de que viveremos rumo à sociedade do ócio. Em diferentes partes do planeta se especula sobre a necessidade de criação de mecanismos de renda mínima para compensar o fato de que simplesmente não haverá empregos para todos. 

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