sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Por que assistentes administrativos têm alto risco de extinção?

Os empregos dos assistentes administrativos têm 96% de chance de desaparecer nos próximos anos por conta dos avanços da automação e mudanças do sistema produtivo - foto: Camila Domingues -Palácio-Piratini
Os empregos dos assistentes administrativos têm 96% de chance de desaparecer nos próximos anos por conta dos avanços da automação e da quarta revolução industrial

Carlos Teixeira
Jornalista I Futurista





Eles são muitos. Mais exatamente, com 4,69 milhões de pessoas, a atividade lidera o ranking de categorias com o maior número de trabalhadores no Brasil. E são numerosos  em outras partes do planeta. Mesmo que não tenham qualquer consciência sobre o futuro, estão pressionados por ameaças crescentes de morrer. A sobrevivência está por um fio.

Estamos falando dos auxiliares administrativos, grupo de alto risco no mercado de trabalho. Nos próximos anos, seus trabalhadores tendem a sofrer fortemente o impacto das mudanças no ambiente econômico que vem cortando empregos pelo mundo. Transformações puxadas especialmente pelas tecnologias. Mas também por novas propostas de gestão e por prioridades públicas e privadas. Segundo o relatório intitulado "O Futuro do Emprego: Quão suscetíveis são os empregos para a informatização?", a função tem uma probabilidade de 96% de desaparecer nos próximos anos, por conta da influência crescente de inovações como a automação de serviços.

Na prática, o corte do número de assistentes administrativos já está sendo efetivado em instituições de todos os tipos e tamanhos. Mesmo o setor público, que representa 26% das contratações totais dos trabalhadores, tem claramente reduzido os seus contingentes. Em alguns setores do Judiciário, os concursos para contratação de novos funcionários estão suspensos, enquanto são reforçados os investimentos em informatização de atividades.





O principal problema enfrentado por esses empregados de apoio nas organizações privadas e públicas é a definição da atividade como tipicamente marcada por rotinas.  Uma das muitas descrições disponíveis na internet diz que auxiliar administrativo "prestar apoio na área administrativa de uma empresa, auxiliando o administrador em suas tarefas rotineiras e no controle da gestão financeira, administração e organização de arquivos, gerência de informações e revisão de documentos, entre outras atividades."





Interesses econômicos





Imagine os funcionários próximos de você e pense se é possível descrever facilmente suas atividades. Processos descritos por ações simples, como controle de contas e de estoques, pagamento e emissão de notas, atendimento de telefones e a clientes são alvos fáceis para os especialistas em desenvolvimento de sistemas informatizados.





Rotinas, em síntese, atraem os profissionais da área de ciência da computação interessados em desenvolver novos produtos capazes de aumentar os ganhos empresariais com a redução dos custos de produção. Considere a intensificação  da busca por produtividade como uma das principais forças do futuro no cenário de competição da nova economia, comandada pela informatização de tudo.





Investir em automação de processos gerenciais será uma questão de sobrevivência para as empresas nos próximos anos. A perspectiva de aumento do número de desempregados e o aumento da concentração de renda e da miséria, como um fenômeno global, reconhecido pelo Fórum Econômico Mundial, vão forçar as empresas a reduzir ao máximo aos custos para dar conta de competir nos mercados locais.





Quem não produzir mais com menor número de empregados estará fadado a perder competitividade. E os empregos com maior qualificação tendem a ser preservados, enquanto funções de apoio vão sendo cortadas. Assim, mesmo em uma indústria, haverá mais engenheiros industriais, com forte formação em programação, do que  auxiliares para providenciar reposição de peças, atividade potencialmente automatizável.





Brasil: mudanças lentas





No Brasil, por questões sociais, econômicas e sociais específicas, a velocidade de substituição  de humanos por sistemas e máquinas pode ser mais lenta do que em outras partes do mundo. O baixo custo da mão-de-obra no país tende a contribui para a possibilidade de transferir para alguém, um assistente contratado, fazer por você, empresário ou chefe de departamento, aquilo que você mesmo poderia fazer.





Custo de mão-de-obra é uma variável que joga a favor preservação e da continuidade da existência de empregos dos assistentes administrativos nos próximos anos. Pelo menos no curto prazo. Imagine a situação em que o empresário considere razoável remunerar um funcionário para receber, organizar e encaminhar documentos. Então, tudo bem, o trabalhador e sua função estarão preservados. Mas, em tese, hoje, já é possível automatizar quase integralmente as funções dos trabalhadores do segmento.





Como sobreviver





Compreender, atualizar competências e antecipar tendências são expressões definidoras das prioridades que devem ser levadas em conta por assistentes administrativos interessados assegurar oportunidades de trabalho no cenário do mercado de trabalho dos próximos anos. O trabalhador acomodado, que acredita que não time que está vencendo, pode ser surpreendido a qualquer momento.





Empregados dos departamentos de administração devem entender que múltiplas mudanças estão ocorrendo ao mesmo tempo, muito além de fatores tecnológicos. Há um novo cenário se consolidando -- consolidando, veja bem -- sob a influência da denominada quarta revolução industrial. O resultado das transformações profundas será um "novo normal", um padrão de funcionamento diferente do modelo herdado do século passado, formador das escolas de gestão.





As relações de trabalho estão mudando, assim como uma nova ética do sistema produtivo e mudanças nas relações de trabalho, que estimulam a precariedade e a flexibilidade de vínculos empregatícios. Além de fatores demográficos, como o envelhecimento da população e, inclusive, mudanças climáticas e ambientais. Compreender a complexidade do funcionamento da sociedade será cada vez mais necessário. 





A compreensão da realidade e de si próprio é a etapa necessária para a busca por atualização de conhecimentos. Não é à toa que o mesmo Fórum Econômico Mundial citado acima defende que espírito crítico e capacidade de resolução de problemas complexos são habilidade determinantes na formação dos profissionais que desejam ter oportunidades futuras de trabalho. 





Espírito crítico é necessário, inclusive, para compreender que as soluções não serão simples. Não basta, por exemplo, considerar que a mera atualização tecnológica seja suficiente para abrir oportunidades. A competência do uso de ferramentas de informática tradicionais não será suficiente. Não basta aprender a lidar com planilhas e processadores de textos.





O auxiliar administrativo deve compreender que seus principais "concorrentes" são recursos como a inteligência artificial, assistentes virtuais e aplicativos gerais de gestão, que viabilizam a digitalização dos serviços. A visão estratégica, antecipatória, é essencial nesse processo, inclusive para dar conta de transformar as tecnologias de concorrentes em ferramentas de trabalho. O que apenas reforça o tamanho do desafio a ser enfrentado pela categoria.





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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Futuro do turismo: três forças que impulsionarão o setor

Ao invés de enfraquecer, as tecnologias tendem a fortalecer o turismo nas próximas décadas - foto: Pixabay
Ao invés de enfraquecer, as tecnologias tendem a fortalecer o turismo nas próximas décadas - foto: Pixabay

Radar do Futuro





As pessoas nunca viajaram tanto quanto hoje. Para Tiffany Misrahi, especialista do Fórum Econômico Mundial, entender a realidade, os indicadores das demandas e as perspectivas futuras será essencial para o mercado turístico. A tendência é de continuidade de crescimento, mesmo que as tecnologias criem novos recursos que, em tese, concorram com os meios tradicionais de turismo, de todos os tipos.





Mais de quatro bilhões de pessoas transitaram pelo ar em 2017. Ao mesmo tempo, os viajantes nunca foram tão exigentes. "Os turistas querem tudo, e de forma imediata", avalia Misrahi. "Esperamos velocidade, autenticidade, personalização, perfeição e segurança."





Ele reconhece que,  para atender a essas altas expectativas, a tecnologia é essencial. As inovações já reformularam a maneira como trabalhamos, vivemos e nos comportamos, e continuaremos a fazê-lo. Revolucionou a forma como pesquisamos, analisamos, selecionamos e vivenciamos viagens. Considere a mudança para o celular e seu cartão de embarque digital.





Aqui estão três megatendências em tecnologia e viagens que poderiam transformar a indústria, segundo Tiffany Misrahi:





1) Feito para você





À medida que a automação aumenta, o quanto você faz (DIY) em comparação com o quanto é feito para você (DFY) vai mudar. Graças aos avanços na IA, a automação não está mais limitada a tarefas físicas. Estamos automatizando os processos mentais. Embora a automação já tenha ocorrido no final da viagem, do estoque à reserva e do pessoal às transações, a IA não vai parar por aí. Considere o potencial em viagens com personalização automatizada do tipo que experimentamos na Amazon. Poderíamos ter recepcionistas digitais como Siri e Alexa, mas para viagens ou até carros autônomos.





À medida que a IA e a automação transformam a sociedade e se tornam cada vez mais difundidas, precisamos considerar os possíveis benefícios e armadilhas, para que possamos abordar proativamente a última. Por exemplo, como os carros autônomos irão remodelar a infraestrutura de transporte? O que essa mudança significa para os aeroportos que dependem de estacionamento para mais de 40% de suas receitas? Da mesma forma, à medida que certas tarefas são automatizadas, como o setor de viagens identificará os funcionários nos cargos mais "em risco" e facilitará sua transição para novos empregos de qualidade, treinando-os novamente com diferentes conjuntos de habilidades?





Acredito que a indústria continuará impulsionando a criação de empregos e que a automação precipitará uma mudança de tarefas centradas em dados para mais funções que envolvam interação humana, criando experiências únicas e memoráveis ​​para os clientes.





2) Experiências sem filtros





Em um mundo repleto de informações, muitas das quais são difíceis de confiar, as pessoas querem experiências não filtradas que as inspirem. Hoje, estamos vendo viagens inteiramente novas, desde embarcações que reproduzem expedições até a descoberta do Ártico, até agências de butiques que oferecem férias "surpresa" ao turismo espacial, com a Virgin Galactic planejando iniciar voos no final de 2018.





Paradoxalmente, o conteúdo de realidade virtual e aumentada pode ampliar o acesso a essas experiências exclusivas e exclusivas. Ele pode oferecer aos clientes um test-drive antes de pagar um preço premium.





A maioria das pessoas não pode comprar lugares na primeira fila para o final de um campeonato nacional ou voar dentro de um vulcão ativo. Mas a RV pode recriar essas experiências virtualmente sem nenhum custo. Ao criar conteúdo 3D de 360 ​​graus, para mostrar uma experiência ou uma marca, os usuários estão mais dispostos a confiar e acreditar na autenticidade do produto.





Assim como a videoconferência não foi um substituto para o contato face a face nos anos 90, não acredito que a RV substitua as viagens. Em vez disso, inspirará as pessoas a descobrir o mundo ou até mesmo a descobrir lugares que não existem mais, como o Egito, na época dos faraós. Mas a RV forçará as marcas e os destinos a serem honestos sobre sua proposta de valor, porque os viajantes continuarão compartilhando suas experiências com sua rede nas redes sociais.





3) Blockchain





Blockchain e, especificamente, criptomoedas, foram a moda em 2017. Esta tecnologia nascente, que permite o armazenamento descentralizado e seguro e compartilhamento de informações, tem o potencial de aumentar a confiança, minimizando o atrito e a corrupção. Além das finanças, a tecnologia blockchain - ou ledger distribuído - tem o potencial de ser aplicada em uma variedade de outros campos.





Uma dessas áreas é a segurança de viagens e, mais especificamente, a biometria, dada a necessidade de verificar a identidade dos indivíduos quando eles cruzam fronteiras internacionais. Embora a biometria seja apenas uma peça do quebra-cabeça para se obter viagens transfronteiriças seguras e perfeitas, essa tecnologia pode fazer uma diferença real. Estabelecer inclusividade, interoperabilidade, escalabilidade e financiamento será essencial.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Agenda 2030: objetivos devem ser abandonados

Prioridades do governo tendem a provocar abandono das metas de combate à pobreza no Brasil - foto: Rede Brasil Atual

Carlos Teixeira
Radar do Futuro





O Brasil passará nos próximos anos por um processo de rompimento profundo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o acordo coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que, em 2015, definiu 17 objetivos e 169 metas para que os países garantam a melhora dos padrões de vida no planeta até o ano 2030. As iniciativas que vinham sendo desenvolvidas por organizações privadas e públicas brasileiras, segundo o movimento global, tendem a ser afetadas por cortes de recursos para a saúde e educação, restrições de investimentos públicos em serviços e infraestrutura e eliminação de programas sociais e ambientais, em confronto com a prioridade para o pagamento de dívidas com bancos.





Assinada por 193 países, a Agenda 2030 assume a premissa de que o desenvolvimento sustentável é aquele que consegue atender às necessidades da geração atual sem comprometer a existência das gerações futuras. Partindo da constatação de que indicadores econômicos, sociais e ambientais são pessimistas quanto ao futuro das próximas gerações, o programa coordenado pela ONU propõe ações de combate à pobreza, de eliminação da fome e de redução da desigualdade social, além de iniciativas de promoção de crescimento que preservem a qualidade de vida e assegurem o combate aos efeitos das mudanças climáticas.





Acontecimentos recentes justificam as previsões pessimistas. Durante o processo eleitoral, o presidente eleito Jair Bolsonaro chegou a demonstrar animosidade em relação à entidade que promove a integração de governos do planeta. Segundo matérias publicadas pela imprensa, em uma solenidade no dia 18 de agosto, na Academia Militar das Agulhas Negras, ele afirmou que “se eu for presidente saio da ONU, não serve para nada esta instituição”.





Como recurso da estratégia de gerar polêmicas, o então candidato assegurou que a “ONU é uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América Latina”. Dois dias depois, relativizou a afirmação, também coerente com as estratégias eleitorais de criar factóides. Segundo ele, foi um “ato falho” e que jamais pensou em sair da ONU. O estrago estava feito, deixando dúvidas no ar. Porém, poucas dúvidas sobre o que ele pensa de fato.





Mesmo entre afirmações e negativas, os discursos e mensagens confirmam sinais de que as perspectivas de afastamento dos objetivos globais são reais. Alguns já começaram a se consolidar desde a entrada do governo de Michel Temer que, em 2016, conseguiu que fosse instituído o Novo Regime Fiscal, a limitação dos gastos públicos do governo. As prioridades de política econômica serão absolutamente as mesmas. Cortes em programas sociais e a ausência de foco no crescimento econômico têm, como consequência, a perspectiva de continuidade do crescimento da pobreza extrema no país no próximo ano. Contrariando o objetivo de buscar estratégias que visam acabar com a miséria em todas as suas formas, em todos os lugares, prioritário e primeiro, da Agenda 2030.





Outro tema central entre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, a educação para todos também tende a sofrer um revés importante, sinal de outros problemas que poderão vir pela frente. Em sintonia com o pensamento predominante no momento histórico do país, o Senado brasileiro acabou de aprovar uma proposta que corta pela metade uma das fontes de recursos do Fundo Social do Pré-Sal, destinado a investimentos em saúde e educação.





Não bastassem os cortes, as propostas do futuro governo para a área são extremamente vagas e frustrantes para quem busca qualidade, destacando o uso indiscriminado de educação a distância ou mudanças curriculares para introduzir o conceito de “escola sem partido”, uma visão limitante do papel do ensino.





Desregulamentação do trabalho





O quadro negativo prossegue com o anúncio da intenção do futuro governo de acabar com o Ministério do Trabalho. A proposta, se mantida, vai garantir impactos diretos sobre outros objetivos importantes acordados na Agenda 2030. Por exemplo, o foco na promoção do crescimento sustentável, que pretende oferecer trabalho decente, esbarra na perspectiva de aumento da degradação do ambiente de produção e das relações entre empregados e empregadores. A desestruturação das equipes de fiscalização, uma consequência possível com a desarticulação do setor público, vai coincidir com o momento em que a reforma trabalhista estimula a informalidade das relações entre compradores e vendedores de força humana.  





Atualmente, no Brasil, 35 milhões de pessoas desempenham alguma atividade informalmente. Empregos sem carteira assinada são 11,5 milhões, enquanto os autônomos, os que se viram por conta própria, são 23,5 milhões. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, apontam que a lenta redução do desemprego no país, na questionável recuperação do ambiente interno, é o resultado das relações precárias que vão ganhando força no cenário da produção. É a informalidade que reduz o desemprego, não empregos de qualidade.





O anúncio da futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do DEM do Mato Grosso do Sul, é a garantia de cortes em prioridades para o combate ao objetivo de “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Coordenadora da Frente Parlamentar da Agricultura na Câmara dos Deputados, ela é apontada pela oposição como “musa do veneno” por conta de propostas que flexibilizam o uso de produtos químicos nas lavouras. Além de defensora de grandes produtores de commodities.





Focada no desenvolvimento do agronegócio exportador, a ministra não deve dar continuidade para “programas e políticas que priorizem os pequenos agricultores, incluindo mulheres e povos indígenas, de modo a aumentar a renda de suas famílias”, segundo o item dois da lista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU. A possibilidade de uma integração entre o Ministério da Agricultura com setores responsáveis pelos cuidados com o meio ambiente tende a agravar o cenário de produção de alimentos nos próximos anos.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Nobel Stiglitz: por que temer a inteligência artificial?

Para o economista Joseph Stiglitz, todas as piores tendências do setor privado, capazes de tirar proveito das pessoas, são intensificadas pela inteligência artificial - foto: The Guardian
Para o economista Joseph Stiglitz, todas as piores tendências do setor privado, capazes de tirar proveito das pessoas, são intensificadas pela inteligência artificial - foto: The Guardian

Radar do Futuro





Ganhador do Prêmio Nobel e ex-economista-chefe do Banco Mundial, Joseph Stiglitz se integra ao grupo de pensadores e cientistas que lançam um olhar preocupado em relação aos impactos futuros da inteligência artificial. Há gente de peso na turma dos céticos. Como os bilionários da tecnologia Bill Gates, da Microsoft, Elon Musk, da Tesla, o historiador Yuval Noah Harari e o futurista Gerd Leonhard. E o falecido Stephen Hawking. Para todos, a inteligência artificial ameaça a existência de nossa civilização.





Para a publicação inglesa The Guardian, deve ser difícil para Joseph Stiglitz permanecer otimista diante de um possível futuro sombrio. Ele anda pensando cuidadosamente em como a inteligência artificial afetará nossas vidas. O raciocínio de viés otimista assinala a crença na possibilidade de construção de uma sociedade mais rica, que inclua a adoção de uma semana de trabalho mais curta. "Mas há inúmeras armadilhas para evitar no caminho", ele assinala.





"As questões que Stiglitz tem em mente não são triviais", atesta a publicação. O economista se preocupa com as ações que levam a impactar as rotinas em nossas vidas diárias, que deixam a sociedade mais dividida do que nunca, e ameaçam os fundamentos da democracia. "A inteligência artificial e a robotização têm o potencial de aumentar a produtividade da economia e, em princípio, isso poderia melhorar a situação de todos", diz ele. "Mas só se eles forem bem administrados."





Uma distinção que Stiglitz faz é entre a IA, que substitui os trabalhadores e a IA que ajuda as pessoas a fazerem melhor o seu trabalho. A tecnologia cognitiva já auxilia os médicos a trabalhar de forma mais eficiente. No hospital de Addenbrooke, em Cambridge, por exemplo, os especialistas em câncer gastam menos tempo do que costumavam para planejar radioterapia para homens com câncer de próstata. O aumento de eficiência é propiciado por um sistema de IA chamado InnerEve. Ele identifica automaticamente a glândula nos exames dos pacientes, possibilitando a antecipação dos tratamentos.





Nem tudo é mágico





Para outros especialistas, a tecnologia é mais uma ameaça. IAs bem treinados agora são melhores em identificar tumores de mama e outros tipos de câncer do que radiologistas. Isso significa desemprego generalizado para os radiologistas? Stiglitz atesta que não é tão fácil. "Ler um exame de ressonância magnética é apenas parte do trabalho que a pessoa realiza, mas você não pode facilmente separar essa tarefa das outras."





É verdade que alguns trabalhos podem ser totalmente substituídos. Na maioria das vezes, são funções pouco qualificadas: caminhoneiros, caixas e trabalhadores do call center, entre outras. Mais uma vez, no entanto, Stiglitz vê razões para ser cauteloso sobre o que isso significará para o desemprego geral. Há uma forte demanda por trabalhadores não qualificados na educação, no serviço de saúde e no atendimento aos idosos. 





"Se nos preocupamos com nossos filhos, se nos preocupamos com nossos idosos, se nos preocupamos com os doentes, temos muito espaço para gastar mais com eles", diz Stiglitz. Se a IA assumir certos empregos não qualificados, o golpe poderia ser amenizado com a contratação de mais pessoas para a saúde, a educação e o trabalho de assistência e pagando-lhes um salário decente, diz ele.





Informações imperfeitas





Stiglitz ganhou o prêmio Nobel de economia em 2001 por suas análises de informações imperfeitas nos mercados. Um ano depois, publicou Globalization and Its Discontents, um livro que desnudou sua desilusão com o Fundo Monetário Internacional - a organização irmã do Banco Mundial - e, por extensão, o Tesouro dos EUA. 





As negociações comerciais, argumentou ele, eram conduzidas por multinacionais às custas de trabalhadores e cidadãos comuns. “O que eu quero enfatizar é que é hora de focar nas questões de políticas públicas que envolvem a IA, porque as preocupações são uma continuação das preocupações que a globalização e a inovação nos trouxeram. Nós demoramos para entender o que eles estavam fazendo e não devemos cometer esse erro novamente. ”





Além do impacto da IA ​​no trabalho, Stiglitz vê forças mais insidiosas em jogo. Armadas com inteligência artificial, as empresas de tecnologia podem extrair significado dos dados que entregamos quando pesquisamos, compramos e enviamos mensagens para nossos amigos. A tecnologia é usada ostensivamente para oferecer um serviço mais personalizado. Essa é uma perspectiva. Outra é que nossos dados são usados ​​contra nós.





“Esses novos gigantes da tecnologia estão levantando questões muito profundas sobre privacidade e a capacidade de explorar pessoas comuns que nunca estiveram presentes em épocas anteriores”, diz Stiglitz ao The Guardian. O poder dos monopólios está no centro do jogo. “De antemão, você poderia aumentar o preço. Agora você pode segmentar indivíduos particulares explorando suas informações. ”





Manipulação de dados





É o potencial de combinação de conjuntos de dados que mais preocupa Stiglitz. Por exemplo, os varejistas agora podem rastrear os clientes por meio de seus smartphones enquanto se deslocam pelas lojas e podem coletar dados sobre o que chama a atenção e quais exibições passam direto por eles.





“Nas suas interações com o Google, o Facebook , o Twitter e outros, eles coletam uma enorme quantidade de dados sobre você. Se esses dados são combinados com outros dados, então as empresas têm uma grande quantidade de informações sobre você como um indivíduo - mais informações do que você tem em si mesmo ”, diz ele.





“Eles sabem, por exemplo, que as pessoas que pesquisam dessa maneira estão dispostas a pagar mais. Eles conhecem todas as lojas que você visitou. Isso significa que a vida vai ser cada vez mais desagradável, porque a sua decisão de comprar em uma determinada loja pode resultar em você pagar mais dinheiro. Na medida em que as pessoas estão cientes desse jogo, ele distorce seu comportamento. O que está claro é que isso introduz um nível de ansiedade em tudo o que fazemos e aumenta ainda mais a desigualdade ”.





Stiglitz coloca uma questão uma suspeita um dilema possível, de cunho interno, das empresas de tecnologia. “Qual é a maneira mais fácil de ganhar dinheiro: descobrir uma maneira melhor de explorar alguém ou criar um produto melhor? Com a IA, parece que a resposta é encontrar uma maneira melhor de explorar alguém ”.





Interferência em eleições





Publicada antes das eleições no Brasil, recheada de casos de manipulações de informações, com o uso do WhatsApp, a matéria do The Guardian destaca as revelações ​​sobre como a Rússia recorreu ao Facebook, Twitter e Google para interferir na eleição de 2016 nos Estados Unidos. O texto reconhece que as pessoas podem ser direcionadas com mensagens sob medida. 





Stiglitz está preocupado que as empresas estejam usando, ou usem, táticas similares para explorar seus clientes, em particular aqueles que são vulneráveis, como compradores compulsivos. "Ao contrário de um médico que pode nos ajudar a gerenciar nossas fragilidades, seu objetivo é tirar o maior proveito possível de você", diz ele. "Todas as piores tendências do setor privado em tirar proveito das pessoas são intensificadas por essas novas tecnologias."





Até agora, argumenta Stiglitz, nem os governos nem as empresas de tecnologia fizeram o suficiente para evitar tais abusos. "O que temos agora é totalmente inadequado", diz ele. "Não há nada para circunscrever esse tipo de comportamento ruim e temos evidências suficientes de que há pessoas dispostas a fazê-lo, que não têm nenhum remorso moral".





Nos Estados Unidos, em particular, houve uma disposição de deixar as empresas de tecnologia para adotar regras decentes de comportamento e aderir a elas, acredita Stiglitz. Uma das muitas razões é que a complexidade da tecnologia pode tornar os regulamentos intimidantes. "Isso sobrecarrega muitas pessoas e sua resposta é: 'Não podemos fazer isso, o governo não pode fazer isso, temos que deixar para os gigantes da tecnologia'".





Mas Stiglitz acha que essa visão está mudando. Há uma consciência crescente de como as empresas podem usar os dados para atingir os clientes, acredita ele. “Inicialmente, muitos jovens consideravam que não tenho nada a esconder: se você se comporta bem, do que tem medo? As pessoas pensavam: "Que mal há nisso?" E agora eles percebem que pode haver muito dano. Acho que uma grande fração dos americanos não dá mais às empresas de tecnologia o benefício da dúvida ”.





Então, como podemos voltar aos trilhos? As medidas propostas por Stiglitz são amplas e é difícil ver como elas poderiam ser incorporadas rapidamente. A estrutura regulatória deve ser decidida publicamente, diz ele. Isso incluiria os dados que as empresas de tecnologia podem armazenar; que dados eles podem usar; se eles podem mesclar diferentes conjuntos de dados; as finalidades para as quais eles podem usar esses dados; e que grau de transparência devem fornecer sobre o que fazem com os dados. 





"Estas são todas as questões que precisam ser decididas", diz o economista. “Você não pode permitir que os gigantes da tecnologia façam isso. Tem que ser feito publicamente com uma consciência do perigo que as empresas de tecnologia representam. ” Para Stiglitz, novas políticas são necessárias para reduzir os poderes de monopólio e redistribuir a imensa riqueza que está concentrada nas principais empresas de IA. 





Em setembro, a Amazon se tornou a segunda empresa, depois da Apple, a atingir uma valorização de mercado de US $ 1 trilhão . As duas valem, agora, mais do que as 10 maiores companhias de petróleo juntas. "Quando você tem muita riqueza concentrada nas mãos de relativamente poucos, você tem uma sociedade mais desigual e isso é ruim para a nossa democracia", diz Stiglitz.





Os impostos não são suficientes. Para Stiglitz, trata-se de poder de barganha trabalhista, direitos de propriedade intelectual, redefinição e aplicação de leis de concorrência, leis de governança corporativa e a maneira como o sistema financeiro opera. "É uma agenda muito mais ampla do que apenas redistribuição", diz ele.





Renda básica universal





Ele não é um fã da renda básica universal , uma proposta sob a qual todos recebem um dinheiro para cobrir os custos de vida. Defensores argumentam que, à medida que as empresas de tecnologia ganham cada vez mais riqueza, a renda pode ajudar a redistribuir os lucros e garantir que todos se beneficiem. Mas, para Stiglitz, isso é apenas uma desculpa. Ele não acredita que é o que a maioria das pessoas quer.





“Se não mudarmos nosso quadro geral de políticas e economias, o que estamos buscando é uma maior desigualdade salarial, maior desigualdade de renda e riqueza e, provavelmente, mais desemprego e uma sociedade mais dividida. Mas nada disso é inevitável ”, diz ele. “Ao mudar as regras, poderíamos acabar com uma sociedade mais rica, com os frutos mais igualmente divididos, e possivelmente onde as pessoas têm uma semana de trabalho mais curta. Passamos de uma semana de trabalho de 60 horas para uma semana de 45 horas e poderíamos ir para 30 ou 25 ”.





Nada disso vai acontecer durante a noite, ele adverte. Um debate público mais robusto em torno da IA ​​e do trabalho é necessário para lançar novas idéias, para começar. "O Vale do Silício pode contratar uma fração desproporcional [de pessoas que trabalham na IA], mas pode não ser preciso muita gente para descobrir, incluindo pessoas do Vale do Silício, que ficaram descontentes com o que está acontecendo", diz ele. “As pessoas já começaram a pensar em novas ideias. Haverá pessoas com habilidades que tentam encontrar soluções. ”





Com informações de
https://www.theguardian.com/technology/2018/sep/08/joseph-stiglitz-on-artificial-intelligence-were-going-towards-a-more-divided-society

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Empresários mineiros buscam negócios em Portugal

Empresários de Minas Gerais estão em Lisboa (Portugal) participando da Feira Web Summit, maior evento tecnológico do ano. A expectativa é que as empresas realizem parcerias e negócios de pelo menos US$ 3 milhões.





Quarenta e três empresários e representantes de startups participam da missão, entre eles o o diretor da FIEMG, Fábio Sacioto e o presidente do Sindicato da Indústria de Software e da Tecnologia da Informação do estado de Minas Gerais (SINDINFOR), Wellington Teixeira.





Para o presidente do Sindinfor, esse é o momento para investir ou expandir os e negócios. “Portugal é a porta de entrada para a comunidade europeia. Nossas empresas podem se unir a deles para produzir e exportar, fazer um grande consórcio, para atender as demandas. Essa janela é breve e os próximos dois ou três anos serão decisivos”, reforçou Wellington Teixeira.





“Hoje, a tecnologia está nos veículos em vários equipamentos como em itens de segurança, gestão de energia, carros híbridos, autônomos. Vejo que a tecnologia está no processo e nos produtos. Achei importante participar dessa missão liderada pelo setor de TI porque as inovações permeiam todos os tipos de indústrias”, diz o diretor da FIEMG, Fábio Sacioto.





Durante o Seminário “Apresentação das Oportunidades de Negócios e Parcerias entre Brasil e Portugal” houve discussões em painéis envolvendo um overview sobre as ações e oportunidades para o desenvolvimento do cenário de TI em Portugal, o cenário de empreendedorismo de TI em Lisboa, incentivos para empresários estrangeiros investirem no país e o papel da Embaixada Brasileira.





O CEO da Salaryfits, Alvaro Amorim, falou sobre a experiência e oportunidade de internacionalização em Portugal. A Salaryfits é uma plataforma que permite às instituições financeiras integrar os seus sistemas com as informações dos recibos de vencimento das entidades empregadoras (públicas ou privadas), proporcionando acesso a uma nova ferramenta de avaliação de risco, bem como a possibilidade de deduzir parcelas diretamente de um salário.





Com informações da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - Fiemg

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