sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não há solução mágica para conter o avanço das drogas no Brasil, afirma especialista

Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O avanço da violência, motivado principalmente pelo tráfico e o consumo de drogas, faz crescer o número de brasileiros que integram às tristes estatísticas sobre a criminalidade. De acordo com o coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública da PUC Minas, Luiz Flavio Sapori, não há uma solução mágica para acabar com o avanço de substâncias ilícitas no país.


Por isso, a única maneira de combater a venda e reduzir o número de pessoas viciadas em drogas é com a integração de esforços entre o governo e a sociedade.

Segundo Sapori, o próximo presidente da República deve ter clareza de que é impossível acabar com o comércio e com o consumo de drogas no país. Por isso, é fundamental direcionar as ações para uma repressão mais eficaz ao tráfico e investir na prevenção e no tratamento de dependentes químicos. “Nenhum país do mundo conseguiu isso até hoje. Ninguém pode prometer reverter esse problema. O que é possível, é minimizar o impacto do tráfico de drogas no âmbito da segurança pública”.

Uma série de reportagens especiais da Agência Brasil, publicada em março de 2009, revelou que o consumo de crack aumentou consideravelmente no país. Em poucos anos, a droga invadiu todos os estratos sociais e escravizou milhares de pessoas. No entanto, segundo Sapori, os governos federal e estaduais agiram tardiamente, pois só alertaram para o problema do crack este ano.

“O plano que o governo federal lançou recentemente é um bom plano e representa um bom começo. O problema é que foi lançado no final do governo. A possibilidade dele sair do papel ainda este ano é muito pequena. São R$ 400 milhões, mas a viabilidade de ser executado ainda este ano é nula. Vai ficar para o próximo governo”, disse.

O coordenador afirmou que o Brasil ainda não tem um sistema público de clínicas de internação especializadas em dependentes de crack. “Acho que o Ministério da Saúde deve capitanear essa nova iniciativa. Os atendimentos ambulatoriais previstos no sistema Caps AD [Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas], espalhado pelo Brasil são insuficientes e não dão conta do problema da dependência química gerada pelo crack”.

Além disso, para Sapori, é fundamental uma ampla e maciça campanha de conscientização de jovens e adultos sobre o crack e os impactos que a droga causa na vida de quem a consome. “Acho que uma campanha tem de ser objetiva, franca, que comunique de maneira muito realista o que o significa um indivíduo que se perde no crack e mostrando que é essa uma droga muito pior do que as outras existentes”.

O avanço das drogas no Brasil está diretamente relacionado com o tráfico ativo nas fronteiras. Por isso, Sapori acredita que é preciso melhorar sensivelmente a vigilância das faixas fronteiriças brasileiras. “No momento, a Polícia Federal não tem tido condições de realizar isso sozinha. As Forças Armadas, até o momento, têm feito esse trabalho muito esporadicamente. Nós devemos estruturar uma organização exclusivamente voltada para a vigilância das fronteiras nacionais”.

Ele também criticou o despreparo da polícia no enfrentamento às drogas, principalmente no que se refere à falta de articulação e de integração dos setores de inteligência das polícias Federal, Civil e Militar. “É preciso melhorar a capacidade de investigar crimes de tráfico de drogas no âmbito nacional. Precisamos estruturar um sistema nacional de inteligência policial exclusivamente voltada para a questão do tráfico de drogas”.

Seus comentários