quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Por que ser otimista em relação ao futuro?

Peça para os seus amigos apontarem motivos de esperança de dias melhores no futuro e avalie as respostas.


Carlos Plácid Teixeira
Jornalista

"Se não controlada, a desigualdade econômica vai fazer regredir a luta contra a pobreza e ameaçará a estabilidade global". O alerta emitido por Winnie Byanyima, presidente da Organização Não-Governamental (Oxfam), contém algum dado positivo, pelo menos. A divulgação do relatório da entidade sobre o cenário social dos próximos anos, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro deste ano em Davos, na Suíça, mostra a crescente preocupação com a instabilidade das relações globais de poder.

A preocupação com a crescente crise social é compartilhada por personalidades como o papa Francisco, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Desde 2014, há demonstrações públicas de algum tipo de inquietação com os rumos da desigualdade social e da dificuldade de reverter o baixo crescimento da economia planetária. Mesmo os relatórios mais recentes do Fórum Econômico Mundial, evento anual frequentado pelos principais líderes econômicos e políticos do mundo, vêm oferecendo, a cada ano, alertas sobre o futuro de desequilíbrio.

Imperceptíveis para inúmeros grupos de pessoas, inclusive para a imprensa, há sinais de inconformismo e de insatisfação espalhados pelos cantos das cidades do mundo. Quem quiser ver, verá movimentos de resistência ao que é velho e, portanto, de renovação de lutas por mudanças da sociedade. Grupos dispostos a enfrentar os defensores do status quo. Que colocam na mira corruptos e corruptores, fraudadores de concorrências, os monopólios de transporte público, corruptores de governos e os detentores do poder econômico e político.

A defesa de novos modelos de sociedade tem o apoio dos mobilizadores sociais. Eles estão presentes, por exemplo, nas iniciativas da economia criativa, que coloca a cultura como valor mais alto da produção social. Entre defensores do uso da bicicleta como meio de transporte, entre propagadores de compartilhamento de bens e serviços, contra os excessos do consumismo.

De janeiro de 2014 a outubro de 2015, o número de buscas pelo termo “feminismo” no Google aumentou 86,7% no Brasil – passando de 8.100 para 90.500 buscas. O crescimento do interesse pelo tema revela também o aumento dos espaços ocupados pelas feministas, em especial, na internet. Antes estereotipadas, elas ganharam o apoio de estrelas e famosos. Um exemplo é a cerimônia do Oscar 2016, em que Lady Gaga cantou para o mundo ´Till It Happens To You, canção sobre assédio e abuso, pautas históricas da luta contra o machismo.

O que pode gerar algum otimismo é, portanto, unicamente o fato de que a sociedade tem mais força de resistência do que é capaz de perceber o poder instituído. Mesmo que o processo se desenvolva a longo prazo. É verdade que a escravidão no Brasil tenha sido eliminada apenas no final do século 19, que descriminação contra negros era oficial nos Estados Unidos até a década de 1960. Que a religião ainda seja argumento para oprimir mulheres.

Mas os meios de comunicação tradicionais sequer imaginam a quantidade de pessoas envolvidas, hoje, em discussões e portas de saída para a atual crise resultante da guerra de interesses políticos e econômicos difusos. Realizado em dezembro de 2015, o projeto Emergências do Ministério da Cultura foi um dos eventos recentes a demonstrar a efervescência de movimentos sociais e de pensadores, artistas, produtores e agentes culturais de todo o Brasil, interessados em discutir mudanças positivas para a sociedade. O evento reuniu representantes de diversos países para o debate de propostas e experiências diante dos desafios sociais e políticos do século XXI.

“Emergências no sentido da necessidade imediata de ações que superem a crise e façam frente ao retrocesso no campo dos direitos, e no sentido daquilo que está vindo à tona”, observa Ivana Bentes, Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do MinC, referindo-se ao surgimento de uma “verdadeira revolução sociocultural”, que, aliada à mudança tecnológica e às comunicações, viabiliza novos territórios culturais, novas formas de organização social e um novo mundo no campo da informação.

“O objetivo é pensar a cultura na centralidade das lutas pela ampliação dos direitos e entender as mudanças no campo da política, dos comportamentos, da economia, das artes. Debater a emergência de novos modelos de sociabilidade”, considera.

Occupy Wall Street ('Ocupe Wall Street'), OWS, é um movimento de protesto contra a a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro - no governo dos Estados Unidos. A simples notoriedade de um candidato socialista nos Estados Unidos é sinal suficiente para demonstrar que a busca por novos modelos está em curso.


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