Primeiros 30 dias serão marcados por acirramento das relações entre governo e oposição em torno de denúncias
Carlos Plácido Teixeira
Colunista Radar do Futuro - Diário do Comércio
Com menos de uma semana, o ano começou, para o setor produtivo, carregado pelos mesmos sinais nebulosos sobre o cenário de curto prazo. Além do que já se pensava. E não só pelos indicadores econômicos. Há, em movimento entre atores, mais do que a herança dos dados fracos dos quatro primeiros anos do governo Dilma Rousseff, empossada para o segundo mandato no ínicio deste 2015, recebido com festas menos calorosas. O cenário começa pesado pela confirmação de que o jogo político não dará tréguas para que se tenha visão racional das possibilidades de mudanças, necessárias para uma retomada dos níveis de confiança quanto ao futuro.
As notícias mais recentes já dão o tom e o rumo dos enfrentamentos. Entre discretas repercussões de lideranças sobre o discurso da posse e novas previsões de uma “tempestade perfeita” se formando no horizonte. Parte considerável dos analistas conta com a perspectiva de ocorrência do pior dos cenários. A combinação, durante o ano, de baixo crescimento do produto interno bruto, alta do desemprego e pressões sobre a inflação. Com o governo enfraquecido e envolvido por denúncias de corrupção, como as que envolvem a Petrobras.
Os indicadores, de alta probabilidade, apontam para o cenário de alta instabilidade, permanente. Começando em janeiro e igual ao que aconteceu durante todo o ano passado. Janeiro vai seguir com novas denúncias sobre corrupção na Petrobras, até que fevereiro. No próximo mês, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot deve enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a lista oficial de pedidos de abertura de inquéritos contra parlamentares envolvidos em ganhos ilegais com a estatal.
No intervalo dos próximos 30 dias, a oposição vai jogar lenha na fogueira, tendo como foco atingir, em cheio o PT, o PMDB e o PP, partidos do núcleo central do governo. Com isso, colecionar mais argumentos para que os inquéritos protocolados por Rodrigo Janot tenham força, inclusive, para o encaminhamento de um processo contra a presidente Dilma Rousseff. Mirando na tentativa de impeachment, o PSDB se sente fortalecido como oposição no momento. Os votos recebidos por Aécio Neves na campanha à presidência e a adesão de novos partidos à base oposicionista justificam um aumento da confiança de que as estratégias de oposição permanente terão resultado..
Protagonista - O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy já ocupa o papel de personagem central de janeiro. Mesmo que pretenda ser mais discreto que Guido Mantega, ocupante anterior da cadeira por oito anos, terá todos os passos acompanhados, sem qualquer discrição. Todas as horas, todos os próximos dias. Em torno deste engenheiro naval, com doutorado em economia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos as atenções estarão girando.
A responsabilidade que está sendo colocada sobre o ministro e sua equipe não é apenas econômica. Como se ele tivesse de responder, também, pelo destino político do governo. Um fogo cruzado entre interesses governistas e oposicionistas. Uma prova de resistência. Para o mercado financeiro, os resultados de Joaquim Levy estarão valendo apenas quando a economia sentir, de fato, o baque de medidas adotadas para controle de contas públicas, com o objetivo de resgatar o nível de confiança do mercado. Um dos sinais a ser esperado é o aumento do desemprego. Atingido o objetivo esperado por um lado, o outro, os movimentos sociais, vão disparar a sua própria artilharia.
Em janeiro, o mercado e a oposição vão medir diariamente a capacidade do novo ministro adotar as medidas consideradas prioritárias. É possível imaginar um gráfico de variação, seguindo o desempenho do mercado acionário. Joaquim Levy assumiu o comando do ministério da Fazenda com o propósito de melhorar a situação das contas públicas, acabar com a “contabilidade criativa” e estabelecer metas críveis para a poupança pública, para a inflação e o crescimento da economia. O termômetro deve refletir, então, o impacto de ações, tidas como duras e impopulares, como corte de gastos, inclusive de programas sociais, aumento de impostos e elevação dos juros.
Indústrias mantêm a incerteza elevada
De todas as medidas esperadas pelo mercado com a posse de Joaquim Levy no ministério da Fazenda, a que parece mais certa, do ponto de vista imediatista, é o aumento da carga tributária. Má notícia, em especial para as indústrias, que vão continuar sentindo, em 2015, a escassez de condições de temperatura e pressão para uma reversão do quadro de perda de importância relativa na economia do país. Afinal, no lugar da reforma tributária, pleiteada há décadas, a nova equipe econômica do governo direciona energia para a necessidade de reforçar o caixa para o curtíssimo prazo.
“Para 2015, apesar do fraco desempenho industrial deste ano, a expectativa é de crescimento tímido” reconhece Guilherme Leão, gerente de economia do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Ele reconhece que o cenário para o ano ainda se mantém com alta incerteza, principalmente por conta do ajuste fiscal que o governo deve fazer, manutenção das taxas de juros em alta, estagnação dos investimentos públicos e pelo risco de racionamento, que é relevante. Mesmo com os desafios predominantes, ele estima que o PIB e a produção industrial cresçam em 2015.
A indústria mineira vem de mais um período de resultados decepcionantes. Segundo a entidade, o faturamento do setor deve ter queda próxima de 6% em 2014, influenciada pela redução nas receitas do setor automotivo, com queda superior a 19% até outubro, metalurgia, extrativa mineral, e minerais não metálicos, entre outros setores. Em relação ao emprego industrial, o ano deve fechar com queda de 2%. “Não tivemos um bom ano para o setor industrial.
O resultado, assinala Guilherme Leão, foi influenciado pela inflação e juros em alta, que afetaram o poder de compra e crédito da população, baixos níveis de investimento público e privado, excesso de intervencionismo do governo na economia, e baixos índices de confiança de empresários e consumidores. No mercado externo, observou-se ainda a desvalorização dos termos de troca do país, influenciado pela queda nos preços das commodities agrícolas, minerais e metálicas e a redução nas exportações para a Argentina, principal mercado das exportações de veículos e máquinas produzidas no estado.
Com cenário de poucas mudanças, em 2015 as oportunidades serão setoriais, prevê o economista da Fiemg. Segmentos de alimentos e fertilizantes tendem a seguir uma trajetória favorável, pois são setores mais “blindados” em relação às oscilações da economia e renda da população. “Fabricantes de máquinas e equipamentos com espaço no mercado americano podem ser beneficiados também, pois temos uma perspectiva de melhora gradual, mas sustentável daquela economia”, avalia Guilherme Leão. “E naturalmente que sempre haverá boas oportunidades para aquelas empresas com excelência em gestão, estratégias e governança”, assinala.
Para o economista da Fiemg, a maior ameaça, seja para a indústria mineira ou brasileira, está na hipótese da necessidade do País ter de decretar um racionamento de energia em 2015. Além da possibilidade concreta do acirramento dos problemas políticos e financeiros da Petrobrás. Como consequência, planos de investimentos podem ser travados, afetando toda a cadeia produtiva envolvida com essa empresa. A tendência de redução nos preços de commodities, como o minério de ferro, e semi manufaturados, como o aço, também constitui uma ameaça às duas principais cadeias produtivas do Estado, que juntas respondem por mais de 40% do valor da transformação industrial (VTI) do estado. Essa perspectiva de baixa nos preços pode, de fato, afetar as decisões de investimento nestes setores, também afetando importantes cadeias produtivas de MG.
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