Heraldo Leite
Consultor/WebMilk
Especial para o Radar do Futuro
Não há horizontes muito claros no cenário político em 2016 e a ingovernabilidade é uma ameaça previsível, o que vai acirrar a crise política e, na esteira, a crise econômico e social. Quem traça dois cenários – com a presidente Dilma e sem ela – com seus desdobramentos e o histórico que levou o Brasil à crise atual, é o cientista social Rudá Ricci.
“Sem a Dilma seu sucessor joga o País no buraco, pois vai ter de administrar um pacote de insatisfação popular. E não haverá resultados rápidos, ainda mais na economia. Do contrário, Dilma pode permanecer, mas vai sendo sangrada o que significa instabilidade durante todo o ano de 2016. Neste cenário quem ganha? Os mais populistas, os mais aventureiros, aqueles que não têm nada a perder.”
A principal atenção, de acordo com o cientista social, é com o Ministério da Justiça, dentro do acordo em torno da reforma ministerial. Se ele contemplar o PMDB significa que o partido ganha mais força e que a PF vai ser “silenciada”. Esta é a verdadeira reforma ministerial. Diminuiçao de ministérios não acaba com o problema econômico do Brasil”, afirma.
Em Brasília
Rudá conta houve uma negociação “fortíssima” em Brasília em agosto envolvendo o alto empresariado brasileiro, parte do PSDB paulista – de maneira informal e o senador Aécio Neves não foi convidado a participar – e o ex-presidente Lula. O objetivo era fazer um acordo porque a situação poderia descambar numa crise sem controle.
“Ofereceram a cabeça de Cunha, mas pediram outra. Afinal foi o PT que provocou isso tudo. Falou-se na saída de Dima. Lula, a contragosto topou. Só que a partir daí foi construído um acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros”, informa Rudá Ricci.
Para Rudá, o quadro ainda não se definiu e vai depender muito de Dilma. “A Dilma é um pastiche do Lulismo. Ele pegou um ministério 300 vezes pior que o do Lula. Ele pagou a rebarba do PT e dos outros partidos, inclusive do PMDB. Ela pegou o que tem de pior que tem nestes partidos. Ela não consegue liderar o País. Ela não tem projeto estratégico”, define.
Empresariado
No entanto, Rudá também analisa que o quadro econômico mundial se deteriorou penalizando o Brasil. Ele avalia que o empresariado brasileiro aderiu às políticas de transferência de renda e outros programas sociais do governo Lula, mas hoje está cada vez mais desconfiado.
“O problema é que em determinado momento o mercado financeiro começou a dar a troco. Com a queda dos juros e com o investimento direto da China, como é que você negocia com dólar, como você negocia com títulos da dívida, como é que você faz dinheiro?”
“O momento mais importante do Brasil foi 2006 e 2007. Em 2008 veio a crise. Entramos no fosso em 2009, mas a gente explode em 2010. Este é o período de ouro, tempo em que tivemos para reformular um pacto desenvolvimentista no Brasil. O empresariado até aderiu, mas quando em 2011 ele percebeu que a política tomou a frente da economia sem liderança do empresariado, deixou de acreditar”, interpreta.
Rudá sente falta de lideranças empresariais, daquilo que define como “formuladores de estratégias”. Enxerga que há apenas acordos pontuais e que há anos não se discute estrategicamente o País. “O nível de debate no Brasil é personalizado. Só se discute pessoas, não se discute projetos. Fulanizou-se a política.”
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