terça-feira, 7 de julho de 2015

Na Austrália, a geração do milênio viverá a sua primeira crise

 O país sofre a mesma crise vivida pela mineração brasileira, com o fim do boom dos investimentos na atividade mineral.


Carlos Plácido Teixeira
Consultor de Tendências - Editor

Depois de 25 anos consecutivos de crescimento sem recessão, a Austrália começa a ver o mundo pelas mesmas lentes cinzentas que contaminam praticamente todo o Ocidente atualmente. A recessão se aproxima. E de acordo com artigo do correspondente do colunista William Pesek, do site "Bloomberg View", não será surpresa se os próximos 12 meses, a encerrar em junho de 2016, forem de retração das atividades econômicas.

"É bastante claro que a recessão está chegando à Austrália. A questão é saber se os australianos estão prontos para isso", diz o texto assinado por Pesek, especialista em mercados e política da Ásia e região do Pacífico. Segundo ele, na última semana de junho,os australianos deviam registrar os bons momentos vividos em um quarto de século. Provavelmente a história não vai se repetir pelo vigésimo sexto ano.

A mudança do cenário e dos humores é protagonizada pela desaceleração econômica na China, o maior mercado de exportação da Austrália. Um contexto que se junta ao fato de que a economia do país já enfrenta tempos de enfraquecimento dos salários, elevada dívida das famílias e crescimento morno do emprego. Mesmo o governo reconhece que as projeções dos balanços dos próximos meses indicam a queda de 25% nos investimentos das empresas. O país sofre a mesma crise vivida pela mineração brasileira, com o fim do boom dos investimentos na atividade mineral.

Wlliam Pesek reconhece que nenhuma nação está totalmente preparada para um crescimento negativo e para salários em queda, mas a Austrália pode ser um caso extremo. Moradores de Sydney na casa dos 20 ou 30 anos nunca experimentaram, diretamente, uma recessão. Crenças de uma felicidade eterna se consolidaram. O colunista recorre ao economista Saul Eslake, ex-executivo do Bank of America Merrill Lynch, para assegurar que "um quarto de século de crescimento ininterrupto produziu um grau de complacência entre os gestores de empresas, entre funcionários e entre os eleitores e os políticos", diz o economista Saul Eslake, ex-executivo do Bank of America Merrill Lynch.

As lideranças australianas teriam esquecido que "a economia nacional exige constante ajustes para se manter competitivo em uma região dominada pela China". Parte do débito é atribuído ao primeiro-ministro Tony Abbott, responsável por políticas que, segundo Pesek, foram desprovidas de quaisquer ideias para aumentar a inovação e a produtividade e criar empregos fora do setor de recursos naturais.

É curioso entender que os governantes do outro lado do mundo, tido como altamente avançado, carregam pecados semelhantes aos de regiões do planeta, incluído na lista o Brasil. Os entrevistados de Pesek dizem que a Austrália abriu mão de uma liderança global na questão das mudanças climáticas, para se tornar um país retardatário. Há, segundo os críticos, um desequilíbrio econômico que não será atenuado nem mesmo por uma melhora da demanda chinesa. E há os efeitos da crise de 2008, com a cobrança de medidas que serão parecidas com as cobradas da Europa em crise. Austeridade a caminho.

Para o colunista da Bloomberg, o cenário sinaliza que a geração do milênio da Austrália pode ter que se acostumar com a idéia de viver com a mãe e o pai no o futuro. Uma perspectiva diferente daquela prometida anteriormente, quando o país parecia imune às crises do mundo. "Mas como a Austrália se dirige para uma recessão, eles vão ter que aprender a se acostumar com isso".

Para entrar em contato com o autor nesta história: Willie Pesek nowpesek@bloomberg.net

Fonte:
http://www.bloombergview.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários