terça-feira, 17 de março de 2015

Imagem global dos bancos preocupa executivo inglês

Banqueiro britânico publicou alerta sobre o desgaste crescente da imagem do setor bancário. Os europeus tendem a impor danos maiores à reputação das instituições bancárias. Mas, a tendência é global.



Carlos Plácido Teixeira
Colunista - Radar do Futuro / Diário do Comércio

Há cerca de dois anos, uma pesquisa divulgada pela consultoria internacional MediaTenor constatou algo óbvio para quem não possui dinheiro suficiente para ser um "cliente prime". Empresas tabagistas e bancos têm reputações comparáveis. Fabricantes de cigarros exploram os vícios. Os outros se beneficiam da falta de alternativas, enfrentada pela maioria absoluta dos cidadãos comuns pressionados pela administração cotidiana de recursos escassos. O envolvimento do banco HSBC em um escândalo sobre o relacionamento privilegiado de correntistas identificados como milionários sonegadores e criminosos e corruptos tem munição para ampliar o conceito negativo.
A insatisfação e o poder econômico e político dos bancos continuam altamente elevados. E problemas de reputação são antigos. Em 2002, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) já fazia campanhas com o objetivo de melhorar a percepção da população sobre o papel desempenhado pelos seus associados. Agora, a imagem em tons de cinza do ambiente que circunda o setor parece preocupar até quem comanda a engrenagem dos mercados.

O banqueiro Peter Sands, CEO do grupo britânico Standard Chartered, publicou recentemente, no site do Fórum Econômico Mundial, entidade privada formada por executivos das maiores corporações globais, um alerta sobre o comportamento atual das instituições, diante do desgaste crescente da imagem. "As pessoas perderam a confiança no sistema bancário do mundo, e nós temos um monte de trabalho a fazer para restaurar a confiança porque, sem isso, o sistema bancário não funciona realmente', reconheceu. Motivos para preocupação existem, de verdade.

O envolvimento do HSBC suíço em operações de apoio sistemático a correntistas acusados de realizar operações de evasão fiscal ajuda a colocar o conjunto das instituições financeiras na berlinda. Executivos tornaram público o reconhecimento de que houve apoio às contas onde eram depositados dinheiro de origem escusa, inclusive do tráfico de drogas, levou o atual presidente do HSBC, Douglas Flint, a admitir, a uma comissão britânica que investiga os acontecimentos na Suíça, o "dano à reputação horrível que o banco sofreu na sequência das revelações do auxílio à evasão sistemática.

Os europeus tendem a impor danos maiores à reputação das instituições bancárias. A população do velho continente convive com uma recessão sem fim desde 2008. A imposição de medidas de austeridade não alivia o cenário econômico. O desemprego permanece elevado, especialmente entre os jovens. A concentração de renda e o aumento da miséria aprofunda a insatisfação com os governos, percebidos como aliados do sistema bancário.

Há o sentimento de que banqueiros são preservados em seus privilégios, inclusive ao distribuir bônus de desempenho quando recorrem ao socorro financeiro de seus governos, para cobrir déficits gerados por movimentos especulativos. Nos últimos anos, desde o início da crise, o setor financeiro em geral tem sido apontado como o principal responsável pela crise.

Desafios - O britânico Peter Sands afirma, no texto publicado no site do Fórum Econômico Mundial, que os bancos globais enfrentam três desafios básicos. O primeiro é a reconstrução da credibilidade e confiança da sociedade, inclusive dos investidores. "Temos um monte de trabalho a fazer para restaurar a confiança, com a adaptação a um ambiente totalmente novo de regulamentação", avalia o banqueiro. O segundo desafio envolve o reconhecimento de que a economia mundial vive um momento de muita turbulencia e dinamismo. "Os bancos têm de ser capazes de responder, antecipar e apoiar essas mudanças", assinala. No terceiro desafio, a tecnologia tem papel estratégico para o setor onde, segundo o executivo, praticamente nada é físico. A maior parte do que fazemos pode ser transformado pela tecnologia.


“Os banqueiros, políticos e reguladores em todo o mundo, devem trabalhar em conjunto para permitir que novos modelos de negócio floresçam”, prescreve Peter Sands, para quem uma boa parte da discussão regulatória parece presa a um debate interminável sobre o que deu errado. Para avançar, será necessário identificar os passos e aprender lições para não haver repetições de fatos que colocam os bancos, banqueiros e seus executivos na berlinda.


Mais tendências


Automação I - Filiais do banco Tokyo-Mtsubishi, no Japão, começam a experimentar o uso de robôs no atendimento ao público. As máquinas poderão se comunicar em 19 idiomas.


Automação II - A Gartner, empresa de pesquisa sobre o mercado de tecnologia, prevê que, em dez anos, um terço dos trabalhos serão perdidos para a automação.


Automação III - Segundo economistas da Universidade de Oxford, quase a metade das atividades atuais será desempenhada por robôs.

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