terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Lojas de rua e livros ganham força para sobreviver

Coincidência marca quatro acontecimentos, ao mostrar mudanças de expectativas do mercado de consumo


Carlos Plácido Teixeira
Colunista Radar do Futuro : Diário do Comércio

Quatro acontecimentos demonstraram, nos últimos sete dias, que nada é absolutamente definitivo no reino da identificação e análise de tendências do mercado de consumo. As lojas de cimento e tijolo foram reabilitadas. O aumento da demanda por livros de papel foi constatado por sensores do mercado editorial. A Intel registrou aumento das vendas de computadores pessoais. E finalmente, para alguma surpresa dos consumidores ávidos por produtos pioneiros, o Google anunciou um recuo estratégico nos planos de lançamento de seus óculos tecnológicos, o Google Glass.

A revalorização do papel e relevância dos pontos de vendas tradicionais foi comemorada, entre os dias 11 e 13 de janeiro, em Nova York, nos Estados Unidos, durante o NRF 2015, maior feira do setor de varejo do mundo. “Num passado recente, os futurólogos diziam que todo o varejo seria digital e que as lojas virariam showrooms”, salienta Alexandre Van Beeck, sócio diretor da GS&MD, empresa de consultoria, especializada em varejo, responsável por uma delegação formada por empresários brasileiros no evento.

Para o executivo, ao contrário das previsões sobre os impactos negativos das inovações e do comércio eletrônico, as tecnologias ampliam o poder das lojas físicas.
“E isso vai provocar ainda muitas mudanças no mercado”, assinala o executivo.

Segundo um balanço divulgado pela GS&MD, o evento nos EUA ofereceu a oportunidade de reavaliação sobre os desafios surgidos com a integração entre os mundos dos comércios nos ambientes eletrônico e físico. Palestrantes e visitantes fizeram questão de destacar que as vendas em lojas físicas ainda são responsáveis por 95% das compras totais realizadas pelos consumidores.

A “ressureição” da loja física foi comemorada por representantes de peso do comércio brasileiro, como Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza e do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), e o CEO da Riachuelo, Flávio Rocha. Para Luiza, foi um alívio. Para o executivo, a maior lição alcançada do evento foi a reabilitação do varejo físico, que era dado como morto nas edições anteriores do evento.

“A loja de tijolo e cimento, com a consolidação dos multicanais de venda, voltou a ser vista com importância por todos os analistas”, assinalou Rocha. Na verdade, houve uma depuração das análises sobre o papel desempenhado pelas lojas, mesmo com o avanço do comércio eletrônico. Segundo a JDA Software, responsável por uma das palestras do NRF 2015, 78% dos consumidores querem continuar comprando em pontos de venda tradicionais, pois consideram que nada supera a experiência física. “Em um cenário em que os sites de comércio eletrônico são muito parecidos, as experiências de marca que podem ser vividas num estabelecimento tradicional ganham relevância”, assinala.

Uma pesquisa da Deloitte, apresentada durante o evento, revela que 84 % dos compradores usam um celular, tablet ou computador antes ou durante a compra. Um das conclusões mais interessantes é que os usuários que utilizam seus aparelhos dentro da loja compram 40% mais do que aqueles não acessam a internet. Quem pesquisa preços ou busca mais informações durante a compra também gasta 22 % a mais do que os consumidores off-line. Isso mostra que o mundo digital não deve ser visto separadamente do mundo físico”, acredita Luiz Alberto Marinho, sócio diretor da GS&BW. “Quem olhar esses dois mundos separadamente vai errar, pois eles são dois lados de uma mesma moeda”.

E-books - Mudanças de expectativas também foram registradas no segmento editorial. Duas pesquisas mostram, pelo menos, uma revisão sobre os destinos do relacionamento dos leitores com os livros digitais e em papel. Talvez com algum exagero, uma pesquisa da Nielsen BookScan, divulgada pelo jornal britânico Financial Times, destaca uma mudança no jogo do mercado ao assinalar que as vendas de títulos em papel nas principais livrarias dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália subiram em 2014.

As vendas digitais teriam, segundo o estudo, perdido fôlego. E o mais curioso, os jovens têm um força importante nesse comportamento do mercado. Uma outra pesquisa, realizada com universitários dos EUA, Japão, Alemanha e Eslovaquia constatou que a maioria prefere os livros físicos aos e-books.

Publicado originalmente no Diário do Comércio, edição do dia 20 de janeiro de 2015





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